Por: Simone Hitomi Oshiro – Terapeuta Ocupacional
Enquanto existir neuroplasticidade, SEMPRE haverá possibilidade de melhorar. Há estudos que mostram que nos primeiros 6 meses a recuperação é mais rápida, até 1 ano ainda há recuperação. VOCÊS SABEM POR QUE ATÉ UM ANO?
Nossos músculos esqueléticos são compostos por fibras aeróbicas (de resistência), anaeróbicas (de força de explosão) e as mistas (com metabolismo aeróbico e anaeróbico). Quando por algum motivo não movimentamos o músculo, há uma diminuição do fluxo sanguíneo local e por consequência ocorre mudanças nas propriedades histoquímicas das fibras musculares. A primeira fibra a sofrer pela diminuição do fluxo sanguíneo é a fibra muscular aeróbica, por depender do metabolismo oxidativo. Portanto, com o tempo, perdemos a capacidade de resistência e movimentos finos. Podemos observar isso em um paciente que até consegue realizar uma ou duas vezes um movimento, mas logo cansa, fadiga.
No artigo de Burnharm (https://www.researchgate.net/…/links/5436a4420cf2dc341db3c4…) mostra a evolução do músculo vasto lateral de 19 pacientes com lesão medular. No primeiro ano as fibras aeróbicas vão diminuindo e transformando em fibras mistas. Em um ano já não há fibras aeróbicas, somente mistas e anaeróbicas. Depois de um ano as mistas vão transformando em anaeróbicas. Ou seja, se o paciente em um ano conseguir voltar a ter a conexão cérebro-músculo, ele poderá se recuperar com as terapias convencionais, de pouquinho em pouquinho ele vai conseguindo recuperar as fibras de resistência (aeróbicas). ISSO SE O COGNITIVO DO PACIENTE ESTIVER BOM para este trabalho de persistência e dedicação.
Mas… e depois de um ano?
Depois de um ano sem movimentação, mesmo que a conexão cérebro-músculo tenha voltado, será muito difícil treinar as fibras aeróbicas com as terapias convencionais, porque não há mais fibras a ser treinadas. Na melhor das hipóteses, o paciente conseguirá sempre realizar poucas repetições de movimentos, não conseguirá evoluir para mais repetições.
HÁ LUZ NO FIM DO TÚNEL?
Sim… sempre há, desde que nunca desistamos.
Ativamente não será possível porque o paciente irá usar o músculo que ele tem (fibras anaeróbicas), ou seja, vai fadigar. Com o uso da ELETROESTIMULAÇÃO, podemos selecionar um músculo e estimulá-lo. Mas como saber se estaremos estimulando a fibra muscular certa, ou seja, a fibra aeróbica? Lendo fisiologia muscular e aprendendo o funcionamento dos aparelhos de eletroestimulação. Em diversos livros de fisiologia mostram que a frequência para produzir contração total (fusão tetânica) de uma fibra aeróbica está na faixa de 10 a 25hz de frequência, acima disso as fibras anaeróbicas também vão contrair. Então se estimularmos o músculo na faixa de frequência de 20hz, vamos trabalhar com as fibras aeróbicas. PORÉMMM… sempre há um porém. O terapeuta estimula o músculo do paciente com esta frequência e NADAAA… não acontece nada, nenhuma contração no músculo. Os “espertinhos” vão aumentar a frequência para 50hz ou mais e finalmente acontece a contração, porém depois de algumas poucas repetições o músculo para de contrair. Por que será?
Se o paciente não tem fibra aeróbica e eu estou estimulando com frequência baixa, VISIVELMENTE NADA IRÁ ACONTECER, mas isso não significa que não estamos trabalhando o músculo. Se eu aumentar a frequência para 50hz, estaremos trabalhando uma fibra que o paciente já tem (por isso que há contração visível), mas ele fadiga muito rápido (característica das fibras anaeróbicas), tem pouco potencial de resistência, tem somente força de explosão.
Então… temos que ter paciência e acreditar no trabalho da eletroestimulação. No artigo “Functional electrical stimulation (FES): muscle histochemical analysis” de Júlia Greve e Linamara Batisttella, mostra a transformação das fibras após a eletroestimulação de 20-30hz, 300ms de largura de pulso, 5on, 10off, 90 dias todos os dias, 2x por dia de 30min. Foi observado por análise histoquímica que houve diminuição das fibras anaeróbicas e aumento das fibras mistas. Há indícios que se continuasse a eletroestimulação haveria transformação em fibras aeróbicas.
E melhor… mesmo com o paciente não colaborando para o movimento, por heminegligência, apraxia, ou afasia de compreensão, o trabalho muscular por eletroestimulação independe da ação voluntária do paciente.
Ou seja… temos que persistir, estimulando com frequência adequada até a contração muscular visível, seguindo colocando carga e iniciar o trabalho ativo com treino funcional (com ou sem a eletroestimulação) com um Terapeuta Ocupacional para melhorar a conexão cérebro-músculo.
Em paralelo, outras terapias podem ser realizadas com o Terapeuta Ocupacional para estimular a conexão cérebro-músculo, como a terapia do espelho, biofeedback, realidade virtual, dentre outras.
Obrigada NEUROPLASTICIDADE
Simone Hitomi Oshiro
Terapeuta Ocupacional
CREFITO 3 / 10601-TO
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